No final de 2015, médicos e profissionais de saúde de beira de leito da região Nordeste do Brasil perceberam que estavam enfrentando um novo desafio. Uma alarmante taxa de recém-nascidos com microcefalia e outros distúrbios neurológicos levantou preocupações médicas e científicas. No início de 2016, a conexão causal entre a epidemia do vírus Zika e a microcefalia foi estabelecida por um estudo de controle de caso coordenado pela Fiocruz

O governo federal reagiu e declarou esta uma Emergência de Saúde de importância Nacional, aumentando sua capacidade de responder a essa crise. Imediatamente, a Fiocruz, a principal instituição científica de saúde do país, preparou-se para a resposta. A Fundação realizou atividades em diversos domínios, como pesquisa, vigilância, fortalecimento de serviços de saúde e produção de produtos de saúde, como testes moleculares. 

Em fevereiro de 2016, a OMS declarou a primeira Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII) já estabelecida na América do Sul. Essa situação atraiu muita atenção do mundo, principalmente porque o Brasil iria sediar os Jogos Olímpicos de 2016.

A presidência da Fiocruz entendeu que o trabalho interdisciplinar era essencial para dar uma resposta adequada a essa questão complexa e às suas consequências duradouras e estabeleceu uma rede que pudesse reunir pesquisadores de diversas áreas. Geografia, Antropologia, Bioética, Psicologia Social, STS, Saúde Pública, Comunicações, Especialistas em dados, Epidemiologia e serviços de saúde são alguns dos domínios cobertos pelos profissionais envolvidos na Rede Zika Ciências Sociais. Além disso, a rede trabalha em estreita colaboração com a sociedade civil e os movimentos sociais, pois seus conhecimentos e perspectivas são cruciais e parte fundamental da questão.

Considerando as implicações científicas, sociais e políticas de tal situação a curto e longo prazo, o objetivo da Rede é Investigar os processos sociais, políticos epistemológicos relacionados com a emergência e o impacto da epidemia do Zika vírus, como um problema social e de saúde no Brasil e de relevância para a saúde global. 

Para atingir esse objetivo, a Rede trabalha com pesquisadores e instituições, promove o engajamento e a educação da comunidade e produz e divulga conhecimento de maneira abrangente e colaborativa.

Alguns dos objetivos específicos da rede incluem:

  1. investigar a epidemia de Zika Vírus com foco nos determinantes históricos e sociais relacionados com sua emergência, difusão e consequências;
  2. identificar e analisar mecanismos de coordenação e cooperação para contribuir com a integração de políticas de saúde, assistência e previdência social para o atendimento a bebês nascidos com malformações congênitas associadas à epidemia de Zika;
  3. mapear a produção e a circulação dos diferentes discursos sobre a epidemia do vírus Zika a partir de fontes jornalísticas, científicas, oficiais e de diferentes grupos (população geral, profissionais/experts, gestantes e pessoas vivendo com as sequelas da infecção), com o objetivo de analisar a apropriação, a legitimação e o uso da informação, do conhecimento e das evidências científicas e suas representações;
  4. apreender as dimensões da promoção da saúde à luz da epidemia de Zika em contextos e situações de vulnerabilidade, reconhecendo os marcadores sociais de gênero, raça, classe, local de residência e religião;
  5. analisar as principais repercussões epidemia de Zika e a resposta do sistema e dos serviços de saúde no Brasil.
  6. analisar e debater equidade na cooperação científica entre parceiros nacionais e internacionais e partes interessadas relacionadas à pesquisa sobre Zika no Brasil;
  7. melhorar a pesquisa digital em saúde usando a cienciometria, altimetria e métodos digitais para mapear a compreensão, a percepção e o engajamento do público na epidemia de Zika por meio de mídias sociais e outras plataformas da Internet.